segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Rabo da raposa


Inverno bravo, certa madrugada
muito gelada,
dona raposa, a tremer de frio,
bebia água de um furo
escuro no gelo do rio.
Mas, distraída ou incauta, não notou
que a ponta do seu rabo se molhou
e se colou, por um tufo de pêlo, 
no gelo.
Não era grave o caso: a fácil solução
era ela só dar um bom puxão
e arrancar-se, deixando algum pêlo
no gelo,
para escapar e pôr-se logo a salvo
dos caçadores, de quem era alvo.
Mas estragar o lindo rabo?
Oh, não! Que diabo!
Como derder a ponta dessa cauda
fofa e frondosa,
ruiva e sedosa?
Melhor é esperar pelo arrebol-
quem sabe então o sol
derrete o gelo e a cauda solta?
E a raposa espera, e olha em volta, 
e olha para trás
(onde o rabo gela e gruda mais e mais…)
e olha para cima: já amanhece,
mas o sol não aquece.
E então ela ouve vozes, e parece
que se aproxima gente.
E, de repente,
agora um grande medo ela sente
e quer fugir daquela situação,
e puxa o rabo-ai! que safanão!
E se debate e pula a coitada, 
mas sua cauda está tão grudada,
que a pobre não consegui nada…
Que aflição!
Mas eis que então,
por sorte o lobo passa por ali.
-Compadre!-grita ela,-Acode aqui!
Me ajuda, salva-me, amigo!
soltar meu rabo eu não consigo!
Se eu ficar aqui, grudada assim,
será meu fim!
O lobo para e diz:-Como teu bom amigo,
vou te ajudar neste perigo.
Te aguenta! o meu dente é forte,
vai te salvar da feia morte!
E a dentadas-um, dois, três!-
cortou-lhe rente o rabo, duma vez.
E a raposa esquece a vaidade,
larga o rabo e-oh, felicidade!-
corre pra toca, e se esconder ligeira,
contente de estar viva, quase inteira.
Parece-me bem clara a moral
da fábula: se pra seu próprio mal
não ficasse com dó de um tufinho
de pelos do rabinho,
a tola da raposa, ao fim e ao cabo, 
teria ainda hoje o seu rabo.
         (Transcrito de Fábulas Russas. São Paulo: Melhoramentos, 1986)

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